"Você
trabalha pesado para garantir seu sustento, poupa seu salário ou seu
lucro, sabe que a vida não é fácil e por isso não tem falsa humildade em
reconhecer o próprio mérito. Tudo isso é muito bom. O seu mérito é
real. Mas lembre-se que um monte de variáveis fundamentais no seu
sucesso escaparam à sua escolha. Por isso, não pense que quem depende de
assistência estatal é preguiçoso ou desprovido de mérito. As condições
que vigoram entre os homens são muito diferentes. Desde a renda com que a
pessoa nasce, aos pais que ela tem, às características psicológicas a
que ela está predisposta, aos caracteres visíveis pelos quais ela será
julgada. Não existe igualdade. Isso não é, em si mesmo, justo nem
injusto, é só um dado da realidade.
Ninguém
gosta de passar necessidade. A persistência da pobreza extrema num mundo
de alta produtividade do capital e do trabalho é um problema. E sabemos
que há entraves institucionais sérios para que pessoas pobres andem com
as próprias pernas. Leis trabalhistas, entraves burocráticos ao
empreendedorismo, impostos, direitos de propriedade incertos, violência,
economia concentrada nas mãos de favoritos do Estado; é isso, e não uma
suposta preguiça, que dificulta a ascensão econômica dos mais pobres.
Ser
libertário não é ser contra a ajuda aos pobres. É ser a favor da ajuda
real, daquela que não apenas dá às pessoas acesso ao consumo, mas da que
lhes permite integrar o mundo da produção, na medida em que quiserem
(pois gerar o máximo possível de renda também não precisa ser o objetivo
de ninguém). A ideia é que os mecanismos assistenciais sejam extintos
não deixando seus dependentes na mão, e sim fazendo com que cada vez
menos pessoas dependam dele.
A ideia, aliás, de que haja alguma oposição entre classes sociais é a marca do pensamento de esquerda: uns são pobres porque
outros são ricos, ou ainda: para ajudar os pobres é preciso tirar dos
ricos. O libertarianismo quebra com esse erro de milênios (muito
anterior a Marx). Por isso é um contrassenso aceitar a doutrina do
conflito e colocar a classe média contra os pobres, como se
esses fossem parasitas daquela. O atual sistema corporativista,
estatista, intervencionista, não é bom para os pobres às custas da
classe média. Ele é ruim para todos. Defender a liberdade é rejeitar
doutrinas de luta de classes, seja do lado que for."
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